Todas as pessoas enfrentarão, em algum momento da vida, a condição de estar com a mobilidade reduzida. Tornar as cidades adaptadas é um desafio para todos.
Quando nos deparamos com os termos mobilidade reduzida e pessoa com deficiência é quase que natural que os unifiquemos.
No entanto, os termos não significam a mesma coisa.
Conhecê-los e saber exatamente como devemos, enquanto cidadãos, nos relacionar com pessoas com essas características é fundamental e contribui com um projeto de cidade, de país e de mundo mais humanizado.
O que é mobilidade reduzida?
Mobilidade reduzida é a situação do indivíduo cujos movimentos são limitados em consequência da idade, de deficiência física (sensorial ou de locomoção, que pode ser permanente ou momentânea) ou mental, necessitando de atenção especial ou adaptações nos ambientes.
Ao tratarmos de mobilidade reduzida é comum que haja uma imediata associação à pessoa com deficiência.
No entanto, ao longo da vida, qualquer pessoa pode passar por momentos em que a sua mobilidade seja, por qualquer situação ou motivo, reduzida.
Em qualquer ocasião das nossas vidas que o nosso corpo passe por algum trauma, situação ou evento que diminua nossa agilidade, equilíbrio ou mesmo coordenação motora, estaremos com nossa mobilidade reduzida.
Assim, uma pessoa idosa, alguém que tenha fraturado um membro e esteja utilizando gesso, tala ou muleta, uma mulher gestante ou uma pessoa com criança de colo podem ser consideradas, igualmente, pessoas com mobilidade reduzida.
Da mesma forma, pessoas com sobrepeso, mulheres lactantes, pessoas com deficiência ou até mesmo alguém que tenha, no momento em que saiu de casa, torcido o pé, também são consideradas dentro desta esfera de dificuldade de locomoção ou mobilidade.
Assim são entendidas as pessoas que utilizam cadeiras de rodas, muletas ou qualquer outro instrumento que possa ajudá-las a se locomover.
No entanto, nem todas as pessoas com mobilidade reduzida têm sua condição tida como permanente, como destacamos anteriormente.
Quais são as terminologias corretas?
A utilização das terminologias corretas para nos referirmos às particularidades de cada pessoa é um gesto não só de muita atenção, mas, sobretudo, de respeito.
Ser uma pessoa com mobilidade reduzida nos coloca diariamente ante a situações que devem ser observadas atentamente por todos.
Essas situações dizem respeito às nossas relações no ambiente social, às adaptações de acessibilidade que todos os ambientes públicos devem fazer e, sobretudo, à participação ativa da pessoa com mobilidade reduzida nos ambientes que desejarem atuar.
Tudo isso, quando combinado com uma atitude amistosa e respeitosa, torna as cidades mais diversas, mais ricas e, certamente, muito mais humanizadas.
E, sim: tudo isso começa pelo nome com que tratamos as particularidades de cada indivíduo.
Mobilidade reduzida
As pessoas com mobilidade reduzida podem ser ou não pessoas com deficiência.
É importante sempre frisar que uma pessoa pode, em algum momento de sua vida, experimentar situações ou vivenciar momentos em que a sua mobilidade esteja, por alguma condição, afetada.
Quando quebramos um braço, estamos com gesso ou tala e precisamos usar o transporte coletivo, somos consideradas pessoas com mobilidade reduzida.
Isso acontece, porque nos falta um suporte importante para que possamos nos manter seguros dentro do transporte coletivo e para que possamos chegar ao nosso destino de forma confortável.
A mesma coisa se dá quando precisamos usar muletas depois de termos machucado o pé, ou fraturado um membro inferior.
Essas condições são chamadas de não-definitivas, mas não nos torna, ainda que por um breve momento de nossa vida, pessoas que não devem receber a atenção necessária para que o seu conforto seja promovido.
Outras pessoas experimentarão a mobilidade reduzia por mais tempo, como no caso de uma mulher gestante, que depois passa, com seu bebê, pela fase de lactação e tem de levá-lo ao colo.
Essa mulher também desfruta da condição de ter sua mobilidade reduzida primeiro em razão da gravidez, e depois em razão do seu bebê e de sua criança de colo.
Ainda há outras pessoas, como os idosos, que também terão sua condição mais estendida, devendo receber atenção social para que seu bem estar também seja preservado.
Ainda há, também, pessoas com mobilidade reduzida e com deficiência, seja ela de natureza mental, intelectual, sensorial ou física, conforme veremos a seguir.
Pessoa com deficiência
A pessoa com deficiência é aquela que experimenta durante um longo prazo da sua vida algum impedimento, que pode ser de natureza:
- Física;
- Sensorial;
- Mental;
- Intelectual.
Esses impedimentos podem gerar, em algum momento de suas vidas, barreiras para que a sua participação na sociedade possa se dar de forma plena e ativa.
Essas barreiras podem ser de diferentes ordens, como físicas ou psicossociais – como aquelas barreiras geradas pelo preconceito.
Por conta disso, é essencial que o tema seja uma pauta ativa de discussão em nossa sociedade, para que mais e mais pessoas possam participar dela sem barreiras, sem entraves e, sobretudo, sem preconceito.
Conheça os diferentes tipos de deficiências:
- Deficiência física
Caracterizada pela má formação congênita de um membro, desarticulação de um membro, nanismo, paralisia cerebral ou pessoas que necessitam de ostomia.
- Deficiência sensorial
É definida pela perda total ou parcial da acuidade de um ou mais sentidos, como deficiência visual ou deficiência auditiva.
- Deficiência intelectual ou mental
São definidas pelo autismo, Síndrome de Down, Síndrome de Asperger, Síndrome de Williams, entre outras.
Desafios de quem tem mobilidade reduzida
Quando se trata dos desafios que as pessoas com mobilidade reduzida enfrentam, logo localizamos dois tipos de barreiras: as físicas e as sociais.
Basta que observemos as cidades por um breve instante para constatarmos entraves para a locomoção e segurança de pessoas com mobilidade reduzida:
- Calçadas irregulares;
- Semáforos com curto espaço de tempo para a travessia;
- Falta de sinalização adequada em centros urbanos;
- Ausência de sinalização sonora, mesmo nas grandes cidades.
Com tantas barreiras a enfrentar diariamente, as pessoas com mobilidade reduzida, seja ela temporária ou não, acabam experimentando um misto de frustração com medo.
Assim, deixam de gozar dos espaços públicos da mesma forma que pessoas sem mobilidade reduzida gozam, não podendo viver plenamente sua cidadania.
Para que mais pessoas possam desfrutar das cidades, dos espaços públicos e de uso privado, é essencial que cobremos rigorosamente dos governantes por políticas públicas que defendam os direitos de pessoas com mobilidade reduzida e com deficiência.
Quando as cidades não se restringem a um único tipo de vivência – aquele da pessoa dita “normal”, todos podem ganhar. Em ambientes mais diversos, menores são as barreiras para que a convivência pacífica entre todos se dê.
Assim, diminuímos as distâncias entre todos aqueles que são diferentes e, com isso, também o preconceito se esvai.
Locomoção dentro de casa
Muitas vezes a locomoção de uma pessoa com mobilidade reduzida encontra barreiras também dentro de sua própria casa.
Isso se deve, sobretudo, à falta de adaptação de ambientes, o que pode prejudicar a qualidade de vida de uma pessoa que já encontra tantas barreiras fora de sua casa.
As adaptações necessárias para que um lar se torne acessível podem variar conforme a necessidade da pessoa com mobilidade reduzida.
No entanto, todas as adaptações devem sempre focar no que deve ser feito para que todos aqueles que residem na mesma casa possam desfrutar plenamente do conforto que o lar proporciona.
Sendo assim, vale a pena observar espaços, garantir apoios, encontrar móveis e acessórios de decoração que não se tornem um entrave para a pessoa com mobilidade reduzida.
Desta forma, é possível fazer com que todos possam viver uma vida feliz e confortável, compartilhando a vida, os ambientes e tudo aquilo que a convivência familiar pode proporcionar.
Preconceito e acessibilidade atitudinal
Quando observamos o conceito de acessibilidade atitudinal nos deparamos com, antes de qualquer coisa, o entrave que o preconceito proporciona na vida de uma pessoa com mobilidade reduzida ou com deficiência.
A acessibilidade atitudinal se refere, necessariamente, a um olhar sobre essas pessoas que não esteja acompanhado pelo sentimento de piedade, por estigmas ou por preconceitos.
Uma pessoa com mobilidade reduzida ou com deficiência não é uma pessoa doente e tampouco deve ser tratada como tal.
É uma pessoa detentora de direitos, de deveres e tão cidadã quanto qualquer outra. As nossas atitudes, mesmo aquelas que são acompanhadas por boas intenções podem realmente atrapalhar a vida de uma pessoa com mobilidade reduzida ou com deficiência.
Sendo assim, sempre que você sentir vontade de ajudar alguém que aparente estar em dificuldade para ultrapassar alguma barreira – seja ela social ou física -, pergunte como ajudar.
Dessa maneira, contribuímos com uma boa relação entre as pessoas de nossa comunidade e, sobretudo, valorizamos a pessoa que pode realmente estar precisando de ajuda.
Nos damos, também, a oportunidade de aprender a ser mais úteis para quem pode precisar e nos treinamos, sobretudo, para um momento que possamos, também, passar por alguma situação semelhante na condição de pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.
Movimentação na cidade e acesso ao transporte público
O Decreto Nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004, institui e determina direitos da pessoa com deficiência e abrange também pessoas com mobilidade reduzida.
O decreto representa um avanço legal, que ampara pessoas com essas características e traz uma série de regulamentações para espaços públicos e privados.
Determinando o que é acessibilidade, o decreto estabelece regras para que a acessibilidade arquitetônica e urbanística sejam implementadas.
Em relação aos ônibus e demais modais de transporte urbano, a acessibilidade também é prevista através de:
- Instalação de elevadores para acesso ao veículo;
- Espaço destacado para cadeirantes;
- Reserva de assentos preferenciais para pessoas com mobilidade reduzida.
Já em relação aos espaços urbanos – parques, vias, praças e demais espaços de uso comum, o Decreto estabelece que:
- Sejam instalados pisos táteis e direcionais para pessoas com baixa visão ou cegas;
- Construam-se calçadas para que a circulação de pedestres com baixa mobilidade ou cadeirantes;
- Sejam rebaixadas as guias de calçadas e construídas rampas para a travessia segura de pedestres.
O decreto também contempla a remoção de obstáculos em calçadas, sendo os mais comuns:
- Marquises, elementos de sinalização e qualquer elemento que seja projetado para a calçada;
- Telefones públicos instalados em calçada, sem cabine;
- Plantas, flores e árvores que se projetem para a calçada, comprometendo o livre trânsito.
Em 2018, através do Decreto Nº 9.404, estabeleceu-se também em qualquer edificação com capacidade para mil lugares tenhamos:
- 2% de espaços para ocupantes em cadeira de rodas;
- 2% de assentos para ocupantes com deficiência ou mobilidade reduzida.
Já em caso de ambientes com mais de mil lugares, a proporção deve ser a seguinte:
- 20 espaços para ocupantes em cadeiras de rodas e mais 1% a cada mil lugares excedentes;
- 20 assentos destinados para ocupantes com mobilidade reduzida ou deficiência e mais 1% a cada mil lugares excedentes.
Dicas para adaptar a acessibilidade em sua casa
Quando se trata do lar de uma pessoa com mobilidade reduzida – seja de caráter permanente ou não – é fundamental que ele seja adaptado para que todos possam desfrutar do mesmo conforto e bem estar.
Para isso, a instalação de acessórios podem contribuir para que a pessoa se sinta mais segura e acolhida para conviver dentro do seu próprio lar.
No banheiro, por exemplo, barras podem ser instaladas no box, a fim de garantir mais apoio na hora do banho, que pode também ser feito em cadeira higiênica.
Já no assento sanitário, uma corda pode ser adaptada para o acionamento da descarga. Assim, a pessoa mantém sua independência ao usar o toalete, seu diminuir, também, sua intimidade.
No quarto, uma mesa para refeições pode contribuir para que a pessoa com mobilidade reduzida possa se alimentar adequadamente e de forma independente.
Outros acessórios, como barras táteis ou de segurança também podem ser instaladas pela casa, a fim de promover trânsito mais seguro entre os cômodos, visto que haveria, ali, um apoio.
Observando essas soluções simples, é possível tornar não só a vida de uma pessoa que você ama mais segura como é, sobretudo, possível levar mais independência para ela.
Assim, os ganhos acabam por se manifestar também na relação interpessoal entre todos do lar.
Conclusão
Agora que você já conhece o que é ter mobilidade reduzida, que tal oferecer ajuda ou apoio a pessoas que possam necessitar dessa atenção?
Pode ser dentro do ônibus, metrô, nas ruas e, até mesmo, dentro da sua própria casa.